Alguém Lembra o Nome da História?
No dia seguinte, o zumbido melhorou. Ao acordar, Lena se dirigiu até a cozinha. Com uma tigela cheia de cereal, sentou-se para comer no sofá. Quando Rylan desceu pela escada, olhou para ela.
— Seu ouvido está melhor?
— Sim, mas ainda escuto o zumbido alto.
Ele se aproximou e sentou ao seu lado. A intenção dele não era interagir com Lena, era procurar por pistas no computador do centro de comunicação. Ele percebeu que o simples fato de ligar o aparelho já a perturbava.
Lena se afastou, lutava contra as lembranças indesejadas. O cereal estava quase no fim quando ele chamou sua atenção.
— Estou olhando as mensagens, uma constante entre elas é que tentavam se conectar com outros sobreviventes. O único sinal que receberam veio do sul — disse Rylan.
Com pesar, Lena decidiu encarar seus temores.
— Existem sobreviventes no sul? — perguntou ela.
— Tudo me leva a crer que sim, o problema é que não sabemos quão ao sul.
— Você nunca foi para o sul da cidade?
Após comprimir os lábios, ele se levantou.
— Venha comigo.
Depois de repousar a tigela na mesa de centro, Lena levantou e o seguiu até a sala de armas. No mapa, a parte sul da cidade estava sem anotações.
— Lembra que eu te contei o que aconteceu na delegacia do distrito sul? Ela fica aqui — disse Rylan apontando para um local na região sul da cidade.
— Você nunca voltou lá?
— Não, tenho a impressão de que as máquinas ficaram mais letais nessa área. Vamos lá procurar por sobreviventes?
— Desculpe, não sei se estou em condições de fazer alguma coisa.
Ele pegou a mão dela com delicadeza e apertou contra o próprio peito.
— Eu estaria morto se você não tivesse me salvado ontem.
Com pesar, Lena fechou os olhos ao lembrar de Larry. Sentia o coração de Rylan bater, o medo era tão conflitante dentro de sua cabeça que acreditava ter chegado no limiar de sua sanidade.
— Eu matei uma pessoa. Nunca vou me conformar com isso.
— Não tire a minha parcela da responsabilidade.
Dez segundos de silêncio, ambos revisitaram as lembranças do dia anterior.
— Vou vasculhar a região sul da cidade. Sua ajuda é bem-vinda, mas entendo sua dor.
Lena tirou a mão do peito dele, se virou de costas e andou até o armário.
— O que está fazendo? — perguntou Rylan.
— Pegando meu coldre e carregando outros pentes.
— Achei que não iria comigo.
— Eu também, acredito que não fará diferença entre morrer aqui sozinha ou ao seu lado.
— Por que acha que vamos morrer?
Lena parou de carregar os pentes de munição e olhou para ele.
— Estou há dois dias escutando um zumbido horrível, sem falar na dor. Quase morremos quando saímos da mansão, por que eu me preocupo tanto com a minha vida? Todos que amei estão mortos.
Rylan a abraçou com firmeza.
— Desculpe, gostaria que fosse diferente.
— Tudo bem, me espera na moto — disse Lena.
Ela terminou de preparar todos os apetrechos e se juntou a ele.
Após fechar o portão, deram partida e foram para a região sul da cidade. A primeira observação de Lena ao chegarem lá, foi concordar com a fala de Rylan. À medida que desbravavam, marcas severas de crueldade apareciam. Desmembramentos eram comuns entre os cadáveres.
A moto estacionou, ele tirou uma cópia do mapa feita de rabisco de um bolso.
— O que está fazendo? — perguntou Lena.
— Anotei nesse papel os possíveis locais, onde acredito que tenha sobreviventes, não quero desperdiçar tempo por aqui. Vamos mais ao sul, tem alguns estádios lá.
A ausência de androides pelo caminho permitiu que a moto desacelerasse. Por mais estranho que fosse, ele parecia decepcionado.
— Eu avisei! Se existe alguém preparado para sobreviver a esse apocalipse, esse alguém é o Rylan! — gritou um homem escondido na entrada do estádio.
Lena sentiu o corpo dele endurecer, era como se ele tivesse ouvido um fantasma.
— Não acredito! É ele mesmo, e veja só, está com uma gata! — gritou outro cara que também estava escondido.
Após frear de forma abrupta, baixou o pé da moto e a desligou.
— Olá, pessoal. Como é bom saber que vocês sobreviveram. Estão todos bem? — disse Rylan, parecendo um robô.
Lena desceu da moto e reparou no comportamento estranho. Os olhos vidrados e bem abertos quase não piscavam. Depois do choque, ela se voltou para os sobreviventes que se aproximavam.
— Prazer, me chamo Stella Bennett e ela é Mia Anderson, qual o seu nome? — disse Stella.
— Prazer, me chamo Elena Ramirez e ele se chama… — dizia até ser interrompida.
— Rylan Kane, nós o conhecemos, fomos colegas de escola — disse Mia.
Quatro rapazes o cercaram ainda na moto, eles riam muito e trocavam contatos físicos como velhos amigos.
— Quem são eles? — perguntou Lena.
— O rapaz maior apoiado no ombro de Rylan se chama Aiden, o cara impressionado com a moto se chama Lucas. Os outros dois são Jackson e Ethan. Não sei se vocês estavam indo para algum lugar, mas eles não vão deixar seu motorista sair tão cedo.
Lena o observava e interpretou a situação como apavorante para ele.
— Bom dia, rapazes. Gostaria de conhecê-los melhor, mas temos assuntos urgentes para resolver em casa — disse Lena.
— Bom dia — disse Aiden, olhando-a da cabeça aos pés. — Quem é a princesa? Ela me lembra daquela personagem que o herói ficava no final da brincadeira, alguém lembra o nome da história?
— Eu chamava de zumbis do Rylan — disse Ethan.
— Bom, já estamos em um apocalipse, beije-a e termine essa história. Lembrando que, caso não consiga, eu posso te substituir — zombou Jackson.
Eles riam, era nítido que Rylan fingia o riso.
— Agora, falando sério, você não acha que deveria apresentá-la para um homem íntegro? Por coincidência, eu estou à disposição — disse Ethan.
Ele continuava fingindo o riso, olhos abertos de forma estranha com poucas piscadas.
— Não, pessoal, eu tenho que voltar para casa — disse ele.
— Elena, não dê ouvidos para eles, são só quatro idiotas — interviu Mia.
— Elena é um nome lindo, acho digno de sua beleza — disse Ethan aproximando-se dela.
— Se toca, mané, ela já está acompanhada — esbravejou Mia.
Rylan saiu dos braços de Aiden, virou a moto e deu partida.
— Foi bom vê-los outra vez. Fico feliz que estejam vivos. Preciso ir embora. — disse com olhar estranho.
Percebendo que ele não estava em seus melhores momentos, Lena correu e subiu na garupa. Rylan só lembrou de sua presença quando a sentiu montar na garupa.
— Achei que a deixaria para nós — zombou Jackson.
Havia algo estranho nele. Não disse nada, nem olhou para trás. Como se estivesse fugindo de fantasmas.
Sumário
Androide zumbi
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