Célio Zangalli Neto

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Androide zumbi capítulo 1

Saída Mais Próxima

— Estamos no caminho certo?

Uma mulher de trinta anos que guiava o grupo fez sinal de silêncio com o indicador, a outra mão gesticulava para pararem.

Na penumbra do corredor, os sentimentos afloravam. O desespero latente quase não permitia que os integrantes daquele grupo formado por dois homens e três mulheres respirassem. Barulhos de engrenagem ressoavam como ecos metálicos em suas cabeças.

— Aquela porta nos levará para a cozinha, de lá teremos acesso à saída — cochichou a guia.

Avançavam tentando manter o silêncio, a cada passo a guia se certificava que seus parceiros estavam seguindo suas instruções.

— Devíamos pegar mais suprimentos — disse um dos homens enquanto apertava o cabo do machado em sua mão.

— Agora não, vamos levar o que pegamos. Precisamos achar um caminho seguro, quando voltarmos coletamos mais — disse a mulher no comando.

Ao chegarem à porta, ela olhava para a maçaneta com o sentimento de pavor. Mesmo que o som do abrir não atraísse nenhum, talvez houvesse algum do outro lado, em ambos os casos eles teriam um final trágico.

Com a mão próxima ao metal, ela fechou os olhos por segundos, orando pelo bem da missão.

O som de algo caindo no chão roubou a atenção. Quando olharam, viram a cabeça de um deles rolando no piso.

Em desespero, ela abriu a porta e só pensou em sair correndo, as pernas bambas atrapalharam a locomoção da guia.

— Vem comigo! — gritou a guia, puxando o braço de uma das mulheres.

Com o machado, o homem tentava enfrentar o androide cozinheiro que os pegou desprevenidos pelas costas. A outra parceira sacou a arma e tentou auxiliar no combate contra a máquina.

A guia corria no rumo da saída, pelos sons de disparos e gritos, ela não considerava que seus parceiros ainda estivessem vivos. Seguiram na tentativa de fugir, ao abrir a porta percebeu que o caminho estava livre do lado de fora. Saiu, mas outro androide tirou a mulher de suas mãos.

— Fuja! — Gritou a mulher agarrada pela máquina.

— Não! Emma!

A guia sacou uma pistola e disparava tentando acertar o androide. Sentiu o peito apertar, como se o mundo tivesse parado ao vê-la ser puxada. Seu grito saiu baixo, sufocado pela adrenalina, enquanto a arma tremia em sua mão.

Depois que a lâmina fatiou o corpo de Emma, o androide a jogou no chão como se fosse uma boneca de pano. O som metálico do corte ecoou na mente, como se gravado para sempre.

Era o fim, agora só restava a guia. Disparou em pânico na direção do alvo que andava na direção dela. A máquina a desarmou batendo em sua mão, a empurrou, jogando-a no chão.

O androide se debruçou sobre a vítima, deixando-a sem possibilidade de reação, até que um tiro de doze destruiu a cabeça dele.

— Levante-se, temos que sair daqui! — A voz grave do homem a tirou do transe.

Montado em uma moto custom, usando jaqueta de couro, ele parecia um sonho no meio daquele terror.

Lena empurrou o androide de cima de si, cambaleou para ficar de pé. Seu olhar foi até Emma, mas o corpo imóvel não deixava dúvidas.

— Vamos! — insistiu, batendo na moto.

Pegou a arma e sentiu o metal frio da pistola ao colocá-la em sua cintura. As lágrimas escorriam pelo rosto, mas tentou ignorar. Ela subiu sem dizer nada, quando a moto arrancou, a dor virou um nó mudo em sua garganta.

A garagem cercava todo o shopping, não havia automóveis estacionados e isso permitiu que acelerassem até a saída. Dois androides correram para atacá-los, ambos foram desativados com tiros na cabeça pela doze do motoqueiro, um terceiro tiro quebrou a cancela e fugiram pela rua.

Ela não sabia quem era ele, mas se sentia aliviada com sua presença. Caso chegasse segundos antes, seus companheiros estariam vivos. Ver Emma aberta pela faca do androide foi desesperador, uma cena que jamais sairá de sua cabeça.

O som do motor abafava os soluços da guia, que chorava pensando no ocorrido. Repousava a cabeça nas costas do motoqueiro e torcia para ele saber para onde estava indo.

Durante a perseguição nos arredores do shopping, algumas máquinas atacavam. Jogavam objetos ou tentavam correr atrás deles, nenhuma alcançou ou acertou qualquer artefato, seguiram em segurança até a rodovia.

Depois de um tempo na estrada, eles entraram em uma periferia. Com a velocidade reduzida, a moto percorria ruas estreitas. Até chegar a um galpão, ao parar, o pezinho da moto foi abaixado.

— Estamos seguros aqui — disse o motoqueiro.

— Onde estamos?

— Esse galpão era de logística, agora é meu lar.

Desceram da moto. Ainda trêmula, a guia manteve a arma na cintura.

— Gostaria de entrar? — ele perguntou.

— Obrigada, mas preciso levar esses medicamentos.

— Rylan, trouxe as batatas? — questionou um androide, abrindo uma porta do galpão.

O coração dela disparou ao ver o androide, mesmo com as mãos trêmulas, ela sacou a pistola e apontou na direção dele.

— Ei! Ei! — gritou Rylan com a mão aberta no rumo da guia. — Não atire!

Em silêncio, ela aguardava explicação.

— Esse androide está limpo, não se preocupe.

Mais silêncio enquanto segurava a arma.

— Morgam, aqui estão as batatas, prepare a sopa para duas pessoas — disse Rylan retirando uma sacola de dentro da jaqueta.

Após pegá-la, o androide voltou para o galpão.

— Vamos começar outra vez, acho que depois de tudo mereço uma segunda chance. Prazer, me chamo Rylan, qual o seu nome?

Nocauteada por tantos acontecimentos, apenas abaixou a arma, mas as mãos trêmulas a mantinha pronta para novos disparos. Com as mangas de sua blusa, ela secou as lágrimas recentes de seu rosto inchado de tanto chorar.

Ele falava com uma confiança irritante, como se o caos que acabara de viver não fosse nada. Mas o que ela poderia fazer? Sozinha, não sobreviveria à próxima esquina.

— Meu nome é Elena, pode me chamar de Lena.

— Muito prazer, Lena. Temos comida essa noite, quer se juntar a nós?

Ela olhava para aquele homem e se questionava sobre quem ele era.

— Gostaria muito, mas preciso levar esses medicamentos.

— E se eu levar você até lá, voltaria para jantar comigo? Estou cansado de ficar sozinho com o Morgam.

Mais algumas lágrimas. Sem forças para recusar e sabendo que precisava da ajuda dele, ela usou sua companhia como moeda de troca pela carona.

— Claro, qual é o cardápio?

Apesar de toda a mistura de sentimentos, Rylan se sentiu acolhido pela companhia daquela noite.

— A única opção disponível é sopa de batata preparada pelo Morgam.

Esse foi um dos seus pratos favoritos em outros tempos, lembrou Lena. O melhor a fazer é seguir o plano, pensou Lena segurando a arma firme ao lado de seu corpo.

— Está bem, vamos? — disse ela, garantindo a carona.

— Antes, quero te mostrar meu estoque de medicamentos, talvez possa te ajudar. Por favor, sinta-se à vontade e não repare na bagunça — disse Rylan abrindo a porta.

Ela seguiu hesitante, com os dedos ainda firmes no gatilho, pronta para qualquer ameaça.

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