Cama Desarrumada
A rotina de sempre, descer da moto, Rylan abre o portão e empurra até a mansão. Pelo semblante, era como se tivessem perdido uma batalha na guerra. Sem troca de palavras ou olhares, ele entrou e pegou o computador militar.
— Já que o jantar foi cancelado, vou beber vinho no quarto — disse Lena tentando salvar a noite.
Rylan olhava para a tela, parecia estar em transe.
— Escutou?
— Sim, claro — respondeu Rylan sem dar importância.
Após pegar o vinho e um copo, subiu para o quarto.
Pelo menos aquele era o melhor vinho que já tomou. Enquanto isso, voltou a atenção para a unha do dedo anelar. Sem o calçado, era visível que cairia. Em seus pensamentos, ela agradecia ainda ter o dedo.
— Quem diria, Dr.ᵃ Helena, você destruiu um tanque blindado — disse a si mesma.
Ela sorriu pensando a respeito. Sempre se considerou inofensiva, mas se divertia pensando em como quase desmoronou um prédio.
Conforme bebia o primeiro copo, sua cabeça se enchia de pensamentos maliciosos. Pensava em fazer algo especial para Rylan, ideias surgiram conforme o tempo passava. O álcool acompanhou consigo a coragem e destilava o juízo. Imaginou como ele ficaria ao encontrá-la pronta para um momento íntimo. O rosto de Lena enrubesceu pensando sobre.
Mais um gole. Decidiu iniciar um dos pensamentos apimentados. Andou descalça próximo da escada. Pensou em chamá-lo, mas queria que fosse uma surpresa.
Voltou ao quarto, resolveu esperá-lo só de calcinha na cama dele. Em seus pensamentos, Rylan a encontraria e tudo aconteceria como o fantasiado, achava que aquele seria o melhor presente para ele.
Invadiu o quarto levando o copo e a garrafa. Sentou-se na cama, Rylan não saia dos pensamentos dela. Ela cheirou a coberta e sentiu a presença dele, mais vinho. O dia se foi, Lena via pelas frestas da janela que já estava escuro lá fora.
Pensando no que faria, fantasiou que se cobriria quando ouvisse os passos dele. Queria que ele tivesse a surpresa de encontrá-la quase nua na cama, imaginou as mãos dele percorrendo seu corpo. Enquanto os desejos não eram realizados, o álcool lhe fazia companhia.
Nem sempre o destilado é um bom amigo. O pior do álcool é quando ele traz lembranças indesejáveis. Pensamentos de culpa por sair do alojamento começaram a assolar seu ânimo.
— Bem que a Valentina tentou me avisar que eu estava apaixonada — disse Lena a si mesma com os olhos cheios de lágrimas.
Virou toda a garrafa para cair até a última gota, esse seria o último copo.
Ela não acreditava que conseguiria proteger todos no acampamento, mas sentia que era sua obrigação lutar até o fim para proteger Valentina.
Dúvidas sobre como aquilo aconteceu, quase a fizeram chorar. Ao terminar o último copo, conferiu se a garrafa estava vazia, deitou na cama em posição fetal e se cobriu.
— Você está bêbada, Dr.ᵃ Helena — disse a si mesma.
Adormeceu pensando no alojamento… Valentina.
No dia seguinte, quando abriu os olhos, percebeu que seu plano falhou. Rylan não a descobriu e suas fantasias não aconteceram. A cabeça doía menos do que o esperado, talvez seja por isso que esses vinhos chiques sejam tão caros.
Saiu do quarto dele e foi para o seu vestir a roupa. Desceu as escadas e preparou um desjejum. Comia cereal com leite na mesa próxima à escada, quando Rylan saiu da sala de armas.
— Você não vai acreditar, passei a noite toda aprendendo a linguagem de programação militar — disse Rylan.
— Acredito sim.
— Conferi e temos controles sobre alguns navios.
Lena mastigava o cereal.
Percebendo que ela não estava em seus melhores dias, Rylan achou que era ressaca.
— Vou dormir — disse ele.
Não houve resposta. Alguns segundos após subir, voltou.
— Por que a garrafa vazia está no meu quarto? E por que a minha cama está desarrumada?
— Porque bebi o vinho no seu quarto e deixei a garrafa lá, sua cama está desarrumada porque eu dormi de calcinha te esperando nela.
— O quê?
— Isso mesmo que você ouviu.
— Desculpe, eu não sabia. Vamos consertar esse erro.
Lena mastigava o cereal, Rylan se aproximou acreditando que conseguiria levá-la de volta ao quarto.
— Eu… — dizia ele até ser interrompido.
— Olha, você não tem culpa de nada, está tudo bem. Teremos outros momentos, mas agora não vai rolar.
Aquele foi o ponto final, sua convicção se esvaiu diante da certeza das palavras dela. Os passos lentos o levavam para o segundo andar.
— Você tem o sono leve!? Estou pensando em praticar tiro! — gritou Lena do andar de baixo.
— Tudo bem, quer que eu te mostre onde estão as munições?
— Não se preocupe, eu encontro.
Sumário
Androide zumbi
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