Célio Zangalli Neto

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Androide zumbi capítulo 22

No Meio do Entulho

Na manhã seguinte, eles se encontraram na sala de armas. Lena se preparava, enquanto Rylan conferia a doze.

— Onde fica o quartel? — perguntou ela de frente ao mapa.

— Aqui — disse ele colocando o dedo em um ponto do mapa.

O local indicado estava embaçado, parecia uma área desfocada no mapa, com linhas turvas ou inexistentes. A única certeza era que se estendia pela praia.

— Por que está embaçado?

— Normas de segurança, até acho que faziam sentido outrora.

Lena concordou em silêncio. Sua real preocupação era em como entrariam na base e se enfrentariam alguma máquina desregulada.

— Passaremos por perto para verificar o estado da estrutura — disse Rylan.

— Certo.

— Pegou o armamento?

— Quase, preciso de dois pentes e munição.

Rylan pegou o equipamento solicitado, Lena se preparava para qualquer imprevisto.

— Estou pronta.

Pelo caminho, alguns androides atacavam, Lena acostumou-se com essa perseguição e não se assustava mais.

Rylan dirigia pela rodovia ao lado do litoral, apesar da visível destruição, o mar mantinha a sua beleza.

Conforme aproximavam da área militarizada, focos de incêndio surgiam. Lena olhava para os estragos. Ao ver que um dos muros da base militar estava danificado, seu parceiro estacionou a moto.

— Vamos entrar por ali — disse Rylan.

— Me parece que foi atacado há pouco tempo, o que você acha?

Ele olhou para os lados antes de seu veredito.

— Acho que quase todos os lugares que andei nos últimos dias foram atacados há pouco tempo.

Lena engoliu em seco.

— Tem razão, deve ser a minha cabeça pregando uma peça.

Conforme se aproximavam, ela ficava mais intrigada com a destruição. Tinha a impressão de que os androides invadiram aquele lugar, sem entender, continuaram andando. Até encontrarem o primeiro corpo jogado no chão, ela não era especialista da área, mas viver em tempos apocalípticos deu entendimento suficiente para saber que o soldado morreu naquela noite.

— Rylan, estou com medo.

— Precisamos continuar, nunca estivemos tão perto.

Aquela frase trouxe de volta o motivo pelo qual eles estavam ali. Com a confiança restaurada, ela passou pelo primeiro cadáver e acompanhou Rylan até o prédio. Alguns corpos pelo chão, mas ela não pensava a respeito.

A primeira porta estava trancada, Lena tinha certeza de que ele daria uma coronhada, mas tirou o token do bolso e destrancou a porta.

— Acredito que os computadores estão no segundo andar — disse Rylan.

Eles andavam juntos, sempre com as armas prontas para disparar. Com passos furtivos, chegaram à escadaria. Subiram ao segundo andar, em uma sala encontraram notebooks e computadores. Rylan usou o token mais uma vez para ligar uma das máquinas.

— Bom dia, Dr Alex Jordan, como posso ajudar? — disse o notebook.

Lena olhou para Rylan como alguém que espera explicação.

— Alex Jordan era o nome do delegado, dono do token.

Faz sentido, pensou Lena. O que não fazia era o número de mortos com aquela tranquilidade no ambiente. Passos metálicos no corredor os colocaram em estado de alerta.

Ambos se abaixaram entre as mesas, queriam se comunicar, mas temiam que algo os escutasse.

Um androide humanoide olhou na direção do notebook. Ao se aproximar, deu indício de uma interação com a máquina. Rylan se levantou.

O androide apontou uma arma na direção dele.

— Identifique-se — esbravejou o androide.

— Detetive Alex Jordan, código de acesso 923176.

Tudo parecia uma longa câmera lenta, máquinas respondem rápido aos comandos, mas parecia uma eternidade sobre a mira da arma dele. Ao relacionar o token com a resposta, ele abaixou a arma.

— Dr Alex, como posso ajudar?

— Me diga o que aconteceu na base?

Lena continuava agachada fora do campo de visão do androide.

— Na noite de ontem, algumas máquinas saíram do controle. Começaram um tiroteio vindo dos portos, depois de algum tempo um comboio quebrou o muro e invadiu a nossa instalação. Apesar da vitória das não contaminadas, não houve sobreviventes.

— Você tem informações sobre o primeiro androide contaminado? Pelo sistema da polícia, eu averiguei que ele esteve aqui.

— Sim, mas sua credencial não autoriza acesso aos arquivos.

Lena levantou-se sem fazer barulho, aproximou-se pelas costas e executou o androide com um tiro. Rylan se jogou no chão, o único ferimento que sofreu foi o impacto da queda.

— Obrigado, achei que não me ajudaria — disse ele levantando-se.

— Não precisa agradecer, pegue as informações que achar importante e vamos embora.

Rylan revirava o banco de dados militares enquanto Lena dava cobertura.

— Temos muitas informações aqui, temos até acesso a imagens de drones — disse ele.

— Isso é bom, pegue tudo e vamos.

— Acabei de achar algo ainda melhor, podemos controlar alguns equipamentos à distância.

— Quais aparelhos? — perguntou Lena.

— Drones, alguns humanoides e navios.

A atenção dela se prendeu na palavra “navios”, por um instante imaginou ser imbatível no confronto contra os androides.

— Tem certeza? — questionou Lena.

— Sim, alguns navios e embarcações podem ser controlados à distância. Pelo menos é o que diz aqui.

Ela se aproximou para conferir, pelos escritos da tela, aquelas informações estavam corretas.

— Você pode transferir o centro de controle para a mansão? — perguntou Lena.

— Estou tentando, mas eu não conheço essa linguagem de programação.

Ao bater o olho, ela a reconheceu. Empurrou Rylan para o lado e começou a trabalhar nos códigos.

— Me dê cobertura, vou mudar tudo para a mansão. Essa programação é muito específica, apenas os militares utilizam.

Rylan cobria Lena enquanto ela trabalhava nos comandos.

— Pronto, podemos configurá-los da mansão agora, mas precisaremos levar esse notebook para lá.

Ao dizer, ela já desligou o notebook e começou a remover seus cabos. Após descer as escadas com a máquina em mãos, eles já comemoravam em pensamentos. Quando abriram a porta, deram de cara com um tanque que mirava na direção deles.

O disparo estremeceu toda a estrutura. Atordoada, Lena sentiu como se seus pés não tocassem o chão.

Muita poeira atrapalhava a visão, o som do disparo ainda zumbia quando ele conseguiu tocar o corpo de Lena. Apesar do susto e das limitações causadas em seus sentidos, estavam vivos.

O tanque vinha na direção deles, Rylan pegou o notebook e puxou Lena de volta para o segundo andar. Ela mal se equilibrava sobre as próprias pernas e deixou que ele a guiasse.

O blindado atravessou a parede, derrubando-a no chão.

— Lena! Consegue me ouvir! Lena!

Ela estava atordoada, mas começou a entender algumas palavras.

— O que vamos fazer? — perguntou ela.

— Programe um navio para atacar o tanque agora!

Enquanto falava, Rylan ligou o notebook de volta nos cabos. Outro estrondo destruiu a escadaria. Atordoada pelos estrondos dos disparos do tanque, ela focou nos comandos, mesmo sem saber se funcionariam.

Outro estrondo e mais paredes destroçadas. Dessa vez, a luz apagou, agora estavam sem energia no meio da poeira. Lena abraçou Rylan pensando que morreriam juntos.

Uma explosão ainda maior que as anteriores fez com que todo o prédio tremesse. Parecia que o edifício desabava. Lena confusa, sentiu o abraço se desfazer em meio aos destroços. A poeira e o calor se misturavam com toda forma de ruído. Seu coração disparou pensando na própria morte.

O zumbido era constante, mas ela sentia que ainda respirava. O corpo dela estava soterrado de entulho. Depois daquela barulheira, o único som em seu ouvido era um chiado. Não conseguia se mover e pensava que o peso a esmagaria. Manteve os olhos fechados devido à poeira e permaneceu paralisada até sentir o peso começar a aliviar aos poucos.

De um em um o entulho foi removido, Rylan puxava e jogava-os para o lado.

— Como ainda estamos vivos? — perguntou Lena.

— O míssil, um navio destruiu o blindado — disse ele acabando de retirar os destroços. — Agora vamos.

Com muita dificuldade, eles desceram do segundo andar pulando sobre alguns escombros. Eles não tinham condições de lutar, seguiram até a moto sem prestarem atenção, por sorte não houve nenhuma intervenção.

Na moto, Rylan sentou e esperou que Lena subisse na garupa. Em uma manobra desajeitada, ela se sentou no tanque da moto de frente para ele. Colocou o notebook entre eles.

— Eu não sei… — dizia Rylan.

Ela interrompeu sua frase com um abraço. Ficaram desajeitados com o notebook entre eles, mas era cheio de afeto.

— Cala a boca e dirige.

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