Coleta de Informações
No dia seguinte, o primeiro afazer após descer a escada foi servir uma xícara de café. Rylan saiu da sala das armas.
— Bom dia, está com uma cara péssima, faltou açúcar? — perguntou Rylan.
— Não, o café está maravilhoso. Essa noite, sonhei com armas e tiros.
— Quer falar a respeito?
— Não teve nada de mais, só estava correndo e atirando em um androide. Não foi um pesadelo, mas acordei exausta.
— Deve ser resultado do treinamento, gostaria que você tivesse dormido melhor essa noite.
— Algo de especial? — perguntou Lena.
— Sim, hoje quero invadir a delegacia do parque industrial. Depois passar em um mercado.
— O que espera encontrar na delegacia?
— Uma pista que nos leve ao fim desse pesadelo.
Lena pensava no que poderia ser encontrado de tão relevante, mas esperou que Rylan explicasse.
— Pensando em tudo que eu já pesquisei, acredito que falta uma informação crucial. Eu não sei como surgiu essa anomalia, mas sabendo onde aconteceu o primeiro caso, terei novos horizontes de pesquisa — disse Rylan.
— E por que a delegacia?
— Se alguém viu alguma anormalidade, a pessoa pode ter notificado a autoridade.
— Faz sentido seu pensamento, mas acho pouco provável que encontremos alguma pista — disse Lena.
— Também acho, mas é a melhor opção.
O último gole de café trouxe à tona várias memórias assustadoras, mas ela estava decidida a enfrentar o desafio. Pagaria qualquer preço pelo fim daquela distopia.
— Onde fica a delegacia? — perguntou Lena.
Rylan a levou até o mapa, o dedo indicador apontava o edifício riscado de vermelho.
— Gostaria que fosse mais perto — disse Lena.
— Pegue a arma, os pentes, vamos encontrar androides militares.
— Eu sei.
Ambos andaram até a moto, empurraram até a rua. O portão sempre emperrava, mas eles entendiam a necessidade de mantê-lo ali.
O caminho era longo, apesar de Rylan manter uma alta velocidade, Lena sabia que levaria tempo. Durante o percurso, ela ficava sempre atenta, enquanto alguns androides os observavam. Havia aqueles que mantinham uma rotina comum enquanto outros tentavam atacá-los. Os hostis não conseguiam alcançar a moto.
Eles pegaram uma rodovia que cruzava o município. Rylan achava mais fácil seguirem por ela, assim seria mais rápido chegar à delegacia. A principal vantagem era a quase ausência de máquinas automáticas pelo caminho.
A moto perdeu velocidade até que Rylan estacionou.
— O que aconteceu? — perguntou Lena.
— Nada. Quando passo por aqui, tenho costume de estacionar nesse lugar por algum tempo.
— Por quê?
— Olhe em volta.
Eles estavam no ponto mais alto da rodovia, alguns carros destruídos ou abandonados pelo caminho. Além da marginal, uma vista privilegiada que permitia olhar quase toda a cidade. Lena agradeceu em pensamentos pelo deslumbre.
— Eu passava por aqui quase todos os dias, mas nunca prestei atenção na vista aqui de cima — disse ela.
— Acredito que ninguém — disse Rylan.
— Não diga ninguém, você disse que tem o costume de parar aqui.
— É, eu disse.
Ele deu uma respirada profunda.
— Quando o mundo ainda estava em sua normalidade, eu sempre passava por aqui, mais de uma vez por dia, mas nunca olhei a cidade aqui de cima. Em meio a essa catástrofe, achando que perdi tudo, eu percebi. Existem prazeres simples que não são valorizados, dependem apenas da nossa contemplação.
Aquela paisagem já foi um retrato da prosperidade, mas agora ela olhava para a cidade enquanto pensava se havia mais alguém vivo. Todas aquelas estruturas de concreto e aço que não levavam a lugar nenhum a fizeram questionar seus valores.
— Próxima parada, delegacia — disse Rylan dando partida na moto.
Antes que chegasse a uma conclusão, a moto seguiu.
O edifício foi construído em um bairro afastado, na região com maior índice de criminalidade. Isso permitia uma resposta rápida das autoridades. Como de costume, Rylan parou a um quarteirão de distância de seu destino.
— Vamos a pé, vou deixar a moto preparada para uma fuga — disse ele.
— Espero que dessa vez não seja necessário, ainda me lembro daquele androide pendurado em mim.
Andaram a última quadra a pé, Lena mantinha a atenção ao redor. Brinquedos infantis espalhados por um jardim a fizeram lembrar da importância do que estavam procurando.
No imponente e assustador prédio da delegacia, corpos em decomposição, tornava o cheiro insuportável. Corredores manchados de sangue e buracos feitos pelos mais diversos calibres revelavam um conflito mortal entre homens e máquinas.
— Estranho, nenhum androide até agora. Achei que estaria cheio deles por aqui — disse Lena.
— Talvez estejam em hibernação.
Eles entraram em uma sala com muitos armários e papéis, ela procurava por algo relevante.
— O que espera encontrar? — perguntou Lena.
— Eu não sei, talvez tenha algum documento nos armários.
Ele ligou um computador.
— Que bom, temos energia — disse Lena ao ver a tela iniciar.
— Acho que consigo acessar os boletins de ocorrências deste computador.
Ela procurou nas gavetas, mas só achou notas que não julgava importantes.
— Acho que encontrei uma pista — disse Rylan.
Lena jogou os papéis que estavam em suas mãos de volta no armário, aproximou-se dele e olhou para o monitor.
— Aqui fala que, uma semana antes do desastre, um androide alterado atacou um cidadão. Também diz que os militares levaram a máquina desajustada para a base naval — disse Rylan.
— Não tem nada explicando o que fizeram com o androide? — perguntou Lena.
— Não.
— O que eles fariam com esse androide em uma base militar?
— Não sei. Interrogá-la, talvez.
Apesar do desespero, Lena sorriu.
— Não acho que o interrogatório militar funcionaria com uma máquina — disse Lena.
— Não consigo pensar em outra possibilidade, o lado bom é que tem o endereço.
— Vamos lá?
— Com certeza.
Ela se dirigiu para a porta, Rylan desligou o computador e foi até a sala do delegado.
— O que está fazendo? — perguntou Lena.
— Eu não vou sair sem olhar essa sala.
A porta estava trancada. Antes que ela pudesse pensar em como entrar, Rylan deu uma coronhada na maçaneta.
— Espero que não atraia nenhum androide — disse Lena.
— Eu também.
Foram necessárias várias coronhadas com a doze para acessar a sala. Como se não houvesse dúvida do que ou de onde procurar, Rylan pegou um objeto de dentro da gaveta.
— Um pen drive? — perguntou Lena.
— Não, um token.
Barulhos vindo do corredor.
— Acho que você interrompeu a hibernação das máquinas — disse Lena.
Eles foram até a porta da sala. Tomando cuidado, tentaram escutar mais barulho.
Andavam nas pontas dos pés. A cada passo pelo corredor, Lena sentia como se fosse o último.
— Parados. Fiquem onde estão e soltem as armas — disse uma voz robótica.
Assustada, sentiu o frio percorrer sua espinha. Olhou para seu parceiro, ele apontava para uma câmera próximo ao teto.
— Vou atirar e saímos correndo — cochichou Rylan.
Lena confirmou com um leve balanço de cabeça.
Um tiro certeiro na câmera. O som do disparo atraiu todos os androides da delegacia. Rylan andava enquanto apontava a arma na direção da saída, tudo que se movia pelo caminho era alvejado. Lena andava com foco na retaguarda.
Ao saírem da delegacia, eles aceleraram os passos. Lena trocou o pente da pistola enquanto corria, alguns androides os seguiam. Rylan saltou sobre a moto e deu partida, ela pulou na garupa.
Lena atirava nos androides, durante a segunda troca de pente, quase deixou os cartuchos caírem no chão, mas conseguiu recarregar para mais disparos. Quando a moto ganhou velocidade, o sentimento de alívio roubou o restante de suas forças.
Sumário
Androide zumbi
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