Larry Johnson
Chegaram, Rylan empurrou o portão para entrar. Lena vagava rumo à mansão carregando o computador.
— Lena, está tudo bem?
Sem responder, ela seguia com passos incertos. Rylan pensou que a falta de audição fosse o resultado dos disparos em lugar fechado. Supondo isso, tocou o ombro dela.
Após colocar o computador no chão, Lena se virou e colocou a testa no peito dele. Ela soluçava enquanto chorava.
Eles passaram alguns minutos assim, parecia que o medo da noite deixou os pensamentos dela. Rylan começou a se preocupar quando as estrelas apareceram, não queria destratá-la naquele momento de fragilidade, mas a tirou daquele abraço e gesticulou que fecharia o portão. Lena pegou o computador do chão e voltou em sua marcha sem esperança.
Entrou, colocou a máquina sobre a mesa, subiu para o quarto e sentou-se na cama. Olhava para a arma sem pente enquanto imagens do cadáver sequestravam sua mente. Lena se sentia culpada por atirar em uma pessoa. Mesmo lembrando do quanto a situação foi caótica, ela não se perdoava.
Chorava enquanto suas mãos cobriam seu rosto, horas se passaram. Ainda escutando um zumbido alto, ela saiu do quarto. Enquanto descia as escadas, pensou se havia registros da pessoa naquele computador.
Encontrou Rylan preparando o jantar, gesticulou para que ele pegasse algo onde pudesse escrever. Sem demora, entregou um caderno pequeno e uma caneta.
“Estou escutando um zumbido assustador — escreveu Lena”
“Eu também, sei como se sente — ele escreveu”
“Posso olhar os registros do computador que pegamos hoje?”
“Claro, fique à vontade”
Lena foi para a sala, ligou o computador na tomada e torceu para funcionar. Quando as primeiras luzes acenderam, ela respirou aliviada. Pegou todos os apetrechos necessários para a pesquisa na sala de armas, monitor, mouse e teclado. Investigando um programa de mensagens que desconhecia, encontrou um local escrito “mensagens não enviadas”.
Olhando todas elas, percebeu que deixaram de ser enviadas na noite anterior. Com um olhar atento, observou que só havia um remetente após a noite de ontem.
Dedicando o máximo de atenção, Lena separou as últimas mensagens dele.
“Estamos sob ataque, uma horda de máquinas destruiu nossas barreiras de proteção. Ainda não conseguimos identificar se são apenas androides ou se pessoas participam do ataque.”
“Os dois prédios vizinhos foram demolidos, não sabemos as causas das explosões.”
“Estou sozinho, sou o único sobrevivente na sala de controle. Vou manter a porta trancada e aguardo socorro.”
Recriou os últimos passos dele em pensamentos, lágrimas escorreram de seus olhos. Procurando por mais informações, encontrou a ficha dos integrantes daquele lugar. No registro com foto, reconheceu a pessoa que matou, um jovem de vinte e dois anos.
Vendo Lena aos prantos, Rylan se aproximou. Em silêncio, ela o abraçou pela cintura e ficou imóvel.
“Posso ajudá-la? — escreveu Rylan.”
“Não. O nome do rapaz que matei é Larry Johnson, tinha idade para ser um dos meus alunos.”
“Não diga que você matou, eu também atirei. Vem, vamos jantar.”
Inconsolável, Lena se arrastou para a mesa. Era sopa de batata, na primeira colher, ela percebeu que nem seu prato favorito teria força contra a dureza imposta a si mesma por sua consciência.
Enquanto comia, Rylan olhava para ela pensando no que poderia tirá-la dessa situação. Quando terminou a refeição, ficou na mesa para fazer companhia a ela. Buscou a doze e se sentou, analisava a coronha e percebia que os dias dela se aproximavam do fim. Diante tantas pancadas, ela estava cheia de rachaduras e trincados.
“Está tudo bem? — escreveu Lena”
“Sim, estou conferindo a coronha da doze. Acredito que a próxima porta será a última.”
Ao ler, ela olhou para ele que mostrava uma rachadura grave na arma.
“Depois de tantas portas e androides, ela merece descanso — escreveu Lena”
Pela expressão em seu rosto, Rylan concordava.
Sumário
Androide zumbi
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