Pela Cidade
Valentina dormia igual um anjo, mas ao levantar, Lena acordou a menina.
— Bom dia, melhor se apressar ou vai chegar atrasada na aula.
As mãos da menina esfregavam o rosto ainda inchado de sono, ela se arrumou o mais rápido que pôde.
Após Valentina ir para a aula, Lena andava pelo alojamento. Hector estava ao lado de três pessoas manuseando armamento, ela aproximou-se deles.
— Bom dia, preparativos para a expedição?
— Sim, estamos aguardando Rylan. Vem com a gente? — disse Hector.
— Claro.
O som da moto era o aviso da aproximação dele.
— Algum motivo especial para ter seis participantes nessa expedição? — perguntou Lena.
— Nada de especial. De acordo com Rylan, teremos mais pessoas para carregar as provisões.
Quando chegou, desligou a moto próximo ao grupo.
— Aqui está o mapa e uma coisa que você esqueceu — disse Rylan entregando o papel para Hector e o coldre para Lena.
— Obrigado por trazer. Ontem achei que voltaria para lá, não me importei em trazer a arma.
Hector olhava o mapa com atenção, estava cheio de anotações. Era como o santo gral para eles, Lena admirou a riqueza de detalhes da imagem.
— Não conhecia seu lado artístico, você desenha bem — disse ela.
Rylan olhou-a com cara de paisagem.
— Direi a Morgan que você gosta da arte dele.
Só Lena riu, Hector não compreendeu, mas estava muito concentrado nas informações do papel para entender piadas entre eles.
— Vamos a esse mercado próximo à rodovia, ele fica ao lado de uma fazenda. Acredito que teremos muitas recompensas para saquear aqui — disse Rylan.
Hector contemplava as anotações, aquele mapa abriu um leque de possibilidades para eles.
— Você disse que teremos recompensas, isso chamou a minha atenção. Estamos aqui conferindo as armas e nos preparando para “saquear as recompensas”, me sinto um criminoso fora da lei — disse Hector.
— O que você fazia antes da catástrofe? — perguntou Rylan.
— Dei aula de direito, meu passatempo era tiro ao alvo.
— Então pense que vamos pegar nosso espólio, talvez isso te acalme.
Um dos rapazes que estava com Hector foi para a garagem e voltou dirigindo uma caminhonete. Alguns tambores vazios na carroceria, a ideia é enchê-los se possível.
Rylan mostrava no mapa os lugares por onde eles passariam e parariam. O mercado estava pintado de vermelho, mas ele achava serem apenas alguns androides contaminados.
O ex-professor de direito subiu na caminhonete acompanhado pelos outros. Rylan e Lena seguiram de moto.
A primeira parada foi no posto de gasolina. Enquanto um deles abastecia o veículo, todos os outros ficavam atentos com as armas em punho. Só pelo fato de encherem o tanque do veículo, já seria motivo para comemorar, mas o objetivo era maior.
De lá foram direto para o mercado, pararam uma quadra de distância para não chamar atenção.
— Hector, precisamos combinar o procedimento. Ficamos eu, você e Lena com as armas prontos para reagirmos, enquanto os três pegam as compras. Não usaremos carrinhos para evitar barulho, estamos entendidos? — perguntou Rylan.
— E o que devemos fazer caso algum androide se aproxime?
— Aguardamos sem nos movermos, tentando não fazer barulho. Um androide ou uma máquina qualquer sem contaminação pode requisitar o auxílio de outro. Como não sabemos discernir quais estão infectados, vamos monitorar a reação e, se for o caso, abrimos fogo.
Todos confirmaram, os três rapazes guardaram suas armas nos coldres e seguravam suas respectivas mochilas. Andaram pela última rua antes da rodovia. Poucas construções ao lado direito, um dos maiores mercados da região à esquerda.
Nenhum sinal de androide, mas o chão limpo revelava que algo ou alguém fazia a manutenção e limpeza do estabelecimento. Com pesar, os três recolhiam os alimentos em estantes que pareciam nunca terem sido tocadas.
Durante o procedimento, um deles derrubou um pote de azeitona que quebrou ao cair no chão. Ficaram em silêncio.
Paralisados, olhavam entre eles e tentavam não fazer nenhum barulho.
Os ruídos de um androide era aterrador, eles ainda não podiam vê-lo, apenas ouvir os sons típicos de engrenagem. Aquela situação era torturante, achavam que seus corações sairiam pela boca.
Ao aparecer, o androide carregava um esfregão e arrastava uma espécie de balde. Parou de frente ao homem que derrubou o pote e ficou esperando.
Hector e Rylan mantinham a arma apontada e o dedo no gatilho.
— Tire o pé — disse Rylan para o coletor que o androide encarava.
Com um frio na espinha, o homem tirou o pé da sujeira.
O androide começou a limpar, aquele não estava infectado, mas a tensão durou até que ele fosse embora.
Aliviados, os ânimos voltaram ao que era antes. Mesmo amedrontados, a coleta continuou.
Ao terminarem a procura por todos os produtos, eles saíram do mercado. Fora do estabelecimento dividiram os itens para que ninguém ficasse sobrecarregado com o peso.
— Achei que teríamos problemas quando o vidro de azeitona caiu — disse Hector.
— Eu também achei, tremia tanto que fiquei com medo de disparar a arma por acidente — disse Rylan.
— Me tira uma dúvida, por que o mercado continua funcionando como se estivesse em um cotidiano comum? — perguntou Hector.
— Eles seguem a programação. Enquanto houver energia e a parte mecânica ainda funcionar, executarão suas tarefas. É por isso que ainda existem linhas de produção operando.
Juntos, andavam e conversavam até a caminhonete. Após guardar toda a coleta, eles foram para a fazenda. Cerca de cem metros para o lado oposto do mercado, longos corredores com macieiras carregadas. Vários cestos cheios de frutas entre as árvores.
— Será que essas frutas foram recolhidas para a gente? — cochichou um dos ajudantes.
— Acredito que eles estejam recolhendo a safra, talvez faça parte do processo deixar esses cestos cheios no corredor. Não peguem deles, coletem as frutas das macieiras e vamos partir — disse Hector.
Pela ausência de qualquer androide ou equipamentos que remetesse a eles, era mais tranquilo. Ninguém, além do Hector, ficou de vigília. Eles enchiam suas bolsas com as maçãs e só pensavam em ir embora.
Um tiro acertou o braço do Hector.
Todos se jogaram ao chão e procuravam de onde veio o disparo. Arrastavam-se na direção do ex-professor. Rylan seguia na direção do tiro.
— Você está bem? — disse Lena ao se aproximar de Hector.
— Sim, vamos sair daqui.
Um dos homens pegou o rifle que Hector usava e seguiu na procura por Rylan. A única preocupação de Lena naquele momento era tirar todos dali com vida. Agachados, mantinham a atenção na retaguarda enquanto seguiam para a caminhonete.
Vários disparos aconteceram, trocas de olhares para conferir se mais alguém foi alvejado. Quando notaram que mais ninguém foi baleado, voltaram à fuga. Momentos depois, Rylan e o homem que pegou o rifle de Hector se juntaram ao grupo.
— Vocês estão bem? — perguntou Lena, preocupada com os disparos há pouco.
— Sim, não estamos feridos — disse Rylan.
— O que aconteceu? Vocês pegaram o que acertou Hector?
— Sim, era um androide de segurança que não estava contaminado. Concluiu que éramos ladrões devido à arma na mão de Hector, atirou só para desarmá-lo. Se a intenção fosse neutralizar uma ameaça, o tiro seria letal.
Ao chegarem na camionete, as maçãs coletadas antes do disparo foram colocadas na carroceria. Parecia que o ferimento de Hector não colocaria sua vida em risco, mas nenhum deles sabia qual seria a consequência daquele tiro.
Sumário
Androide zumbi
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