Caixa de Sapato
Após desligar o motor, Lena desceu da garupa. Ela sempre estava empolgada, mas dessa vez parecia que algo a consumia por dentro.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Rylan.
— Estou pensando na conversa que tive com a Valentina, estou sendo muito relapsa na criação dela.
— O que quer dizer com isso?
— Vou terminar os meus estudos com as suas anotações e pretendo voltar para perto dela no alojamento.
Lena acreditava que aquela era a atitude certa a ser tomada, uma menina de doze anos sem nenhum parente próximo, Valentina devia se sentir desprotegida.
— Você sempre terá o meu apoio. Vamos entrar, quero te mostrar os androides que usei para os testes.
Lena foi direto para a mesa de centro com os papéis, sentou e começou a ler os últimos relatórios enquanto aguardava Rylan trazer o androide. Ela achou que ele estava demorando muito, até que uma porta se abriu.
Rylan entrou pela porta aberta puxando uma corda. Por meio dela, ele arrastava uma prancha com duas caixas de madeira do tamanho de fogões empilhados.
— A caixa de baixo contém máquinas contaminadas, na de cima são as livres de contaminação. Agora, você entende por que fiquei sem graça de mentir para Valentina? Foi, talvez, a maior fraude que já cometi.
— Seu mentiroso, enganando a pobre criancinha — disse Lena sorrindo.
Ela se aproximou das caixas, sua primeira atitude foi abri-las.
— Tenha cuidado. Caso aproxime um equipamento limpo com um contaminado, ambos ficarão infectados.
Cada caixa foi deixada em pontos opostos da sala. Lena usava uma tela acoplada na parede, para monitorar detalhes de cada peça.
Remexendo aquele pequeno estoque de peças infectadas, Lena encontrou um androide que parecia uma caixa de sapato. Ficou olhando para ele pensando nas possibilidades.
— Gosto de usar essas caixas nas pesquisas. Sem os braços, elas são incapazes de nos agredir — disse Rylan.
— Onde eles estão?
— Na outra caixa, a contaminação não fica no braço. Se tirar o membro de uma máquina contaminada, ele fica limpo.
— Morgan, por favor, traga café — pediu Lena.
O androide foi para a cozinha.
Lena posicionou a caixa de sapato no meio da sala, colocou o relatório dela na tela. Um alerta indicava que estava contaminada. O fato de não ter braços auxiliava a manuseá-la sem perigo. Sendo assim, sua bateria foi desligada.
Após encontrar um braço, Lena o encaixou naquele androide peculiar. Assim que ligado, o androide tentava agarrá-la ou pegar algo que pudesse jogar nela. Por medidas de segurança, tudo estava preparado para essa reação e o androide não conseguiu causar nenhum ferimento. A bateria foi desligada, recolocando-o em repouso. Para evitar problemas, o braço foi desinstalado.
Os dados do braço desacoplado foram colocados na tela. Indicavam que não havia contaminação.
Morgan serviu o café, Lena o bebeu enquanto pensava e lia relatórios.
Entre as peças, encontrou uma cabeça. O monitor confirmou que ela não estava infectada. Com os ajustes necessários, foi instalada na caixa de sapato. Ao ligá-la, o rosto tinha todos os sinais de infecção, olhos vidrados no humano mais próximo.
Lena sacou a arma do coldre, deu um tiro na cabeça e a caixa desligou.
— Não faz sentido. Ela nem precisava ter uma cabeça para estar ligada, por que ela desligou quando eu atirei?
— O monitor diz que a caixa está em hibernação.
— Isso é mais estranho ainda, não existe motivo para nada disso. Morgan, traga mais café — disse Lena estressada.
Nenhum sinal do androide.
— Morgan já está desligado. Caso queira, posso preparar o café.
Lena esfregava as mãos contra o rosto, tentando se acalmar. Não entendia o que estava acontecendo, respirava fundo e procurava respostas.
— Por favor, com pouco açúcar. Hoje a noite vai ser longa.
Sumário
Androide zumbi
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( ͡~ ͜ʖ ͡°)