Debaixo da Mesa
Algumas horas após o meio-dia, Rylan desceu a escada. Lena estava sentada no sofá, desmontando e montando a arma.
— Achei que você demoraria mais tempo até aprender a fazer a manutenção.
— Estou entediada, consigo fazer seguindo o manual.
— Durante a noite, eu pesquisei o material do exército. Eles investigavam uma central de comunicação que funcionava no centro da cidade, esse será o próximo passo.
Com um olhar desconfiado, Lena apurava as palavras dele.
— Ainda não me recuperei de ontem — disse ela.
— Desculpa, mas precisamos seguir em frente.
— E qual é o plano dessa vez?
— Vou até a central de comunicação procurar por pistas, acredito que tenha sobreviventes no local — disse Rylan.
— Quando?
— Agora.
Lena olhou para ele, questionando sua sanidade.
— Já passamos do meio-dia, não acredito que seja uma boa ideia sair agora — disse Lena.
— Se você não vai, vou sozinho.
Fechou os olhos e respirou fundo, pensou a respeito de tudo antes de tomar a decisão.
— Vou montar a arma para irmos.
Ela ainda estava preocupada, mas o fato dele ir sozinho adicionou um novo elemento à equação. Caso algo de ruim acontecesse, Lena ficaria sem companhia. Após montar a arma, pegou o coldre e foi para perto da moto. Rylan esperava lá fora com a doze em mãos.
— Estou preocupada com o horário.
— Não fique, seremos rápidos.
O caminho foi tranquilo, os androides que tentavam pegá-los não acompanhavam a moto. Como o centro da cidade era mais populoso, mais obstáculos surgiam.
Alguns dos prédios foram demolidos, os destroços se espalhavam pela rua. Rylan estacionou a moto após passar por cima de alambrados jogados no chão.
— Vamos entrar nesse prédio — disse Rylan apontando para um edifício.
A primeira impressão de Lena foi a preocupação de possíveis máquinas atacando-os. Desceu da garupa com a incerteza se voltariam para casa.
— Os prédios vizinhos desabaram, a estrutura está comprometida — disse Lena.
— Eu sei, vamos rápido, não teremos luz após o pôr do sol.
Os primeiros passos ao entrar foram caóticos, ouviam barulho de cacos de vidro sendo pisados no chão. Quando abriram a porta que dava nas escadas, um androide se levantou.
— Como posso ajudá-los?
Apesar do susto, ambos ficaram aliviados ao perceberem que o androide não queria atacá-los, respiraram fundo enquanto reorganizavam os pensamentos.
— Tem alguém no prédio? — perguntou Lena.
— Não há como confirmar, na noite de ontem sofremos um ataque — disse o androide.
— Como foi o ataque?
O androide desligou.
— Acho que está descarregado — disse Rylan.
— Também acho.
Começaram a subir a escadaria, a falta de luz trouxe o maior de todos os desafios. Subiam se guiando pelo corrimão, ambos temiam trombar em uma máquina.
A cada lance de escada, Rylan abria a porta. Isso deixava a luz entrar, melhorava, mas os temores continuavam.
— Vamos subir até qual andar?
— Penúltimo andar, o décimo primeiro. Acredito que os arquivos estejam lá.
Quando passava por uma das portas abertas, Lena olhava a claridade cada vez menor. A experiência dizia ser um erro andar pela cidade durante a noite.
Sons metálicos subiam as escadas, ela mirou escada abaixo pronta para atirar. Rylan sinalizou com a palma da mão para abaixar a arma. Quando avistaram, perceberam ser o androide do primeiro andar. Usando a coronha da doze, ele bateu na cabeça e o derrubou.
— Acho que a bateria não tinha acabado — disse Rylan.
— Vamos depressa, estou com medo da noite.
Continuaram subindo sem contratempos, o décimo primeiro andar parecia menos destruído que os outros.
— Acho que o ataque não chegou até aqui.
— Vai rápido, temos que ir embora — esbravejou Lena.
Rylan andava abrindo todas as portas. Quando o primeiro androide contaminado apareceu, Lena o neutralizou com um tiro.
— O que estamos procurando aqui? — disse Lena.
— Computadores.
Uma porta trancada chamou a atenção de Lena.
— Aposto que está nessa sala, você tem o telefone de um chaveiro? — brincou Lena tentando amenizar a tensão.
Depois de três coronhadas da doze, a porta abriu. A parte interna revelou o que eles não queriam ver. Pessoas mortas há pouco tempo, carcaças de androides e equipamentos de comunicação por toda a sala.
— Tem alguém aqui? — disse Lena em voz alta.
— O que está fazendo?
— Se a porta estava trancada, deve ter alguém.
— Faz sentido.
Rylan procurava um computador específico, um servidor que armazenasse as informações. A falta de energia obrigava que abrisse a lateral, analisasse as peças de cada máquina e deduzisse se era a que ele procurava.
Sons de passos faziam com que Lena ficasse cada vez mais apreensiva. Um androide entrou pela porta na direção de seu parceiro, distraído com um computador. Ela acertou com um tiro.
— Obrigado, você melhorou a pontaria.
— Me agradeça depois, já encontrou? — disse Lena apurada.
Não houve resposta, Rylan continuou a busca. Outro androide apareceu e, mais uma vez, ela neutralizou a máquina com dois tiros. O som de vidro quebrando roubou a atenção dela.
— Foi você?
— Não — respondeu ele.
Um androide entrou pela porta que levava à varanda, Lena o acertou. Outro pela porta que usaram para entrar. Mais um veio da sacada, Rylan parou de procurar o computador e a ajudou a alvejar os androides.
Ele conferiu mais uma máquina.
— Achei.
Lena deu um passo na direção da porta, mais robôs apareceram. Os sons dos disparos estavam ensurdecedores, ela dava cobertura para que Rylan recarregasse. Androides vindo da varanda eram neutralizados por ela enquanto ele abria caminho até a porta.
Quando algo saiu debaixo da mesa, Lena atirou por impulso. A pessoa alvejada se curvou, passou os dedos pelo ferimento e olhou para a mão ensanguentada. Rylan atirou com a doze em seguida.
Ela estava paralisada, olhando o cadáver caído em sua frente, a fumaça dos disparos não permitia que visse o rosto. Entendendo que ela estava fora de si, Rylan pegou seu braço e a puxou para a porta. Lena tentou trocar o pente para recarregar, mas suas mãos trêmulas deixaram a munição cair no chão.
Após pegar o computador, ele tentou se comunicar com Lena, mas os disparos deixaram ambos ensurdecidos. Usando a mão dela, Rylan guardou a arma no coldre. Entregou o computador para que carregasse e a puxou.
Os androides deixaram de emboscá-los, na escada apenas dois apareceram e ambos foram apagados com coronhadas. Lena continuava imersa em seus devaneios. Quando chegaram ao primeiro andar, Rylan tentava falar, mas a cada palavra, ela ficava mais distante.
Após conferir que não havia perigo na rua, a levou até a moto. Lena sentou na garupa, segurando na cintura dele, ela prendia o computador entre eles. Depois da partida, foram para a mansão.
Sumário
Androide zumbi
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