Célio Zangalli Neto

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Banhada em sangue

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“Este conto é recomendado para maiores de 18 anos por conter temas de violência explícita e tensão psicológica.”

Até a porta não colaborou, com um pouco de força, solucionei o problema.

O calor da estalagem aqueceu meu corpo frio. Antes de entrar, bati a mão para retirar a neve acumulada em mim, agradecendo ao Senhor pela travessia segura.

Os cinco homens sentados à mesa olhavam para mim e cochichavam. Presumi que as palavras a meu respeito eram as piores possíveis, vi as expressões negativas no semblante de cada um deles.

O frio daquela noite gélida foi mais forte que os olhares de desprezo, buscando pelo calor, me aproximei da lareira. Ninguém interagiu, talvez seja a repulsa pelo catolicismo. Juntei minha força, fé e ousadia para dizer:

Boa noite, cavalheiros.

Não houve respostas, levantaram e mudaram de lugar. Sentei-me à mesa e dialoguei comigo mesmo em pensamentos, acho que ninguém nessa vila conversará comigo.

Um homem de meia-idade passou por uma porta e sentou-se atrás do balcão. Quando trocamos olhares, ele abaixou a cabeça como se tivesse recebido uma visita indesejada. Talvez seja o único que me responda alguma pergunta.

Ele parecia mais incomodado a cada passo que dava em sua direção.

Boa noite, você é o estalajadeiro?

Após respirar fundo e me olhar da cabeça aos pés, ele respondeu.

Quem mais poderia ser? — falou de forma seca.

Sirva vinho para matar a minha sede.

Ainda impaciente, despejou a bebida em uma caneca.

Me dê os denários — exigiu o estalajadeiro antes de entregar o vinho.

Coloquei a mão no bolso e lhe entreguei algumas moedas, depois de uma rápida olhada, elas foram guardadas por ele. Em minha ingenuidade, pensei que o estalajadeiro me entregaria o troco, mas ele só empurrou a caneca na minha direção.

Bebi meu vinho, tenho certeza que paguei mais que seu valor, mas o paladar estava bom. O sabor dele foi a primeira surpresa agradável nesse lugar.

Por que as pessoas daqui me ignoram ou são grosseiras comigo?

O estalajadeiro respirou fundo pela segunda vez antes de responder.

Pela batina preta que veste, presumo que seja um padre católico.

E vocês são protestantes?

Não — respondeu o estalajadeiro e ficou em silêncio.

Peço ao Senhor que me dê forças para continuar.

Então, qual o problema de um padre católico nessas terras?

O estalajadeiro abaixou o semblante e parecia entristecer com a pergunta, ao levantar o rosto me surpreendeu com a resposta.

Seu Senhor abandonou essas terras.

Lágrimas acumularam nos olhos do estalajadeiro, mas não escorreram.

Ouvimos diversas notícias a respeito, acredite em mim quando digo que a santa igreja trará a palavra do Senhor.

Padre, você não sabe do que está falando.

Engulo em seco, as palavras cruas de um homem sem esperança me fez questionar minha fé.

Me conte o que sabe sobre a condessa.

Chega de perguntas — disse o estalajadeiro, deixando as lágrimas aprisionadas escorrerem.

Talvez não seja uma boa ideia prosseguir com o assunto, todos na estalagem olhavam para nós. Decidi mudar o tema:

Preciso de um cômodo para essa noite.

Ele retirou uma chave de uma gaveta do balcão, a mão esquerda a segurava enquanto a direita apontava para a minha cintura. Retirei moedas do bolso e entreguei, após avaliá-las ele a soltou. Pela segunda vez, acredito que foi negligente com o troco.

Depois de pegar a chave, o estalajadeiro indicou para o canto com o dedo. Lá, uma porta marcada com o mesmo número.

Obrigado, que o Senhor ilumine seu caminho.

Após entrar no quarto, me deparei com a simplicidade do lugar. Uma mesa com algumas velas e uma cadeira, um amontoado de feno sobre uma cama. Retirei a bolsa de couro que carregava nas costas e sentei na cadeira, algo me dizia que o melhor a fazer era consultar as páginas sagradas.

Enquanto folheio, o som de batidas na porta interrompe o início de minha leitura. Levanto e me dirijo a entrada do quarto, peço ao Senhor que me proteja de qualquer mal. O ranger das dobradiças parecem maiores, talvez meu medo as tenha intensificado.

Bom dia, padre, o bispo Ezequiel pediu para que eu te auxilie, por motivos maiores, manterei minha identidade anônima. Sei o que procura, quero apresentá-lo a duas pessoas — disse um homem de barba escura, alto e largo, vestindo roupa preta.

Por si só, ele já é assustador. Pela quantidade de neve em suas vestes, acabou de chegar na estalagem.

Creio que sejam protestantes… — dizia antes de ser interrompido.

Não estou falando de condutas religiosas, padre, estou falando dele em carne e osso — disse o homem de barba escura e voz rouca.

Ele está exagerando, mas agora tenho um guia a meu lado. Obrigado bispo Ezequiel e obrigado Senhor.

Onde estão as pessoas que deseja me apresentar?

Longe, precisamos cavalgar até elas, me acompanha?

Olhei pela janela e pude conferir que não estava nevando, sem argumento para negar a cavalgada, aceitei o convite.

Sim, me dê um segundo para me arrumar.

Após fechar a porta, guardei a bíblia na bolsa e a coloquei no ombro. Apaguei a vela e clamei por proteção antes de sair do cômodo.

Juntos fomos para o estábulo, apesar de não cair neve naquele momento, o cenário estava branco. Montei em meu cavalo, aguardei até que ele subisse no dele, juntos e em silêncio seguimos por um caminho entre a mata. Tive medo em vários momentos, mas minhas preces deram forças para continuar.

Aquele sujeito perturbador, usando um manto negro sobre um cavalo escuro que contrastava com o branco da neve, guiava-me e trazia incertezas. Será que me equivoquei ao pensar que ele foi enviado pelo meu Senhor?

Faço orações em meus pensamentos, enquanto nossos cavalos são guiados por ele. Aos poucos, a velocidade reduz, meus nervos ficam à flor da pele, quando ele para próximo a uma cerca e desce do cavalo.

Chegamos — disse o homem com olhar soturno. — Zuzana! Quero te apresentar a uma pessoa.

Desci do cavalo apreensivo, talvez esteja fazendo mau juízo daquele homem. Alguns metros além da cerca, alguém abriu a porta de uma casa rústica. Assim que uma senhora se juntou a nós, o homem de barba escura pronunciou:

Nos diga o que sabe sobre a condessa.

Zuzana começou a tremer e fechou os olhos. Aquele colosso a abraçou como sinal de proteção, ternura e disse:

Preciso que você seja forte.

Depois do abraço longo, ela usou as mangas do vestido para secar as lágrimas e desabafou:

Vi, ouvi, senti coisas que nenhum humano deveria presenciar.

Ao falar, ela voltou cabisbaixa para casa.

É melhor deixá-la, ela não está preparada para lidar com as lembranças, vamos, tenho outra pessoa para apresentar — disse o homem de voz rouca.

De volta aos cavalos, fomos para o alto da colina. Durante o percurso, pude ver a fortificação, não sei se vamos lá, mas estamos cada vez mais próximos.

Apesar de perder o receio por ele, meu medo aumentava a cada galope. Peço ao Senhor que me proteja nessa empreitada.

Chegamos próximos à fortificação, estamos na muralha do castelo. Blocos de pedras claras empilhadas formam uma parede, o caminho passa por uma fenda larga por baixo de um arco feito com as rochas.

Após descer do cavalo, uma possível conhecida dele se aproximou e cochicharam algo que não pude ouvir. Ela entrou para a parte interna da maciça muralha.

Ela foi chamar a pessoa que quero te apresentar.

Desci do cavalo, talvez seja impressão minha, mas vejo uma figura sombria na janela no alto do castelo. Sinto um calafrio ao pensar que poderia estar me observando, embora, a essa distância, isso fosse improvável.

Uma mulher jovem aproximou-se de nós.

Katarína, esse padre veio de Roma, diga a ele o que acontece no interior do castelo.

Apesar de não cair aos prantos, ficou nítido seu desconforto com o assunto.

Imagine o pior que uma pessoa pode fazer, isso não está próximo do que acontece aqui, padre, vi mulheres abandonadas nuas para perecer no frio da neve. Hoje, diante de tudo que já vi, penso que foi um privilégio morrer assim — disse Katarína, que parou de falar quando lágrimas se acumularam em seus olhos. — Desculpe, padre, se falar mais, vou começar a chorar e tenho medo de ser penalizada por estar assim.

Katarína voltou para dentro da muralha, enquanto andava, pude vê-la de costas para mim, secando o rosto.

Espero ter encontrado o que veio procurar, padre, vamos — disse o homem de barba escura voltando ao cavalo.

Durante o retorno à estalagem, pensava a respeito do relato. Aquilo era mais do que eu precisava para trazer o Santo Ofício para essas terras. Em breve, a palavra do Senhor traria luz a este lugar.

Quando chegamos, deixei meu cavalo no estábulo e andava para meu quarto, quando o homem chamou minha atenção e disse:

Padre, tenha cuidado, o inimigo é ardiloso.

Ele se retirou, tudo naquela vila pedia cuidado. De volta ao quarto, orei por uma hora enquanto clamava pela proteção divina. Agora devo cumprir com a minha obrigação, com uma pena de ganso relatei em um papel tudo o que vi desde o momento que cheguei aqui.

Toda a animosidade e condutas erráticas só podem vir de pessoas desvirtuadas do caminho. Depois de escrito, senti a sensação de dever cumprido. Em breve, o Santo Ofício receberá minhas palavras e providências serão tomadas.

Com a carta dobrada, joguei a cera sobre ela e selei com meu sinete. Enquanto moldava o lacre, sons de batida na porta fizeram o meu coração disparar.

Andei até ela, respirei fundo e a abri. Era um garoto usando uma túnica de cor magenta, que disse:

Boa noite, padre, venho a mando da condessa lhe entregar uma mensagem.

O rapaz bem-afeiçoado transportava um envelope.

Boa noite, que o Senhor te abençoe.

Amém — respondeu.

É a primeira vez que ouço essa palavra por aqui, peguei o envelope e nele estava escrito “entregue ao padre”. Quando abri, li que se tratava de um convite para um jantar naquela noite.

Senti frio na barriga, temo pelo meu destino, me lembrei que o Senhor escreve certo por linhas tortas e me perguntei se estava diante de alguma provação.

Onde fica esse castelo?

No alto da colina. Caso aceite o convite, fui instruído a acompanhá-lo até lá — respondeu o rapaz, senti minhas mãos tremularem.

Mesmo com os olhares estarrecidos dos hóspedes da estalagem, uma mistura de pavor e medo, aceitei o convite.

Depois que cada um montou no cavalo e tochas foram acesas, partimos para o topo da colina.

Durante todo o caminho, mantivemos o silêncio. Os únicos sons eram os passos dos cavalos na neve, o queimar das tochas e os barulhos de animais noturnos na selva.

O rapaz parou ao chegarmos no castelo.

Siga em frente, padre. A partir daqui, outros serviçais te auxiliarão — disse sem descer do cavalo.

Obrigado, fique com o senhor.

Amém.

É um prazer imensurável ouvir palavras familiares antes de pôr os pés no castelo, continuei após fazer o sinal da cruz.

Duas jovens se aproximaram de mim, depois que desci do cavalo. Uma delas pegou as rédeas e o levou para o estábulo, enquanto a outra me conduziu até a porta.

Apagaram a minha tocha ao entrar, Katarína fingia não me conhecer, fiz o mesmo. Ela me guiou até uma escada e disse que o jantar esperava no último andar. A imagem do observador na janela invadiu meus pensamentos, engoli em seco e segui a coordenada.

O cheiro de porco assado me encantou, minha boca salivava. Quando abri a porta da sala de jantar, o aroma da refeição me seduziu. Uma mesa de madeira ostentava um banquete majestoso, um javali assado ornava o centro do banquete. Garrafas, taças, frutas e talheres atiçavam meus desejos mais íntimos.

Ao lado da mesa, uma linda mulher sorria para mim.

Pelo olhar, acredito que esteja faminto. Venha, sente-se à mesa, essa noite seremos apenas nós dois, padre — disse a mulher mais encantadora que já vi, uma voz meiga e um sorriso doce nos lábios.

Sorrio imaginando a situação.

Desculpe, essa viagem foi muito penosa para mim. Minha aparência reflete meu cansaço.

Ela andou leve como um anjo e puxou a cadeira para me sentar.

Sei como se sente, preparei o melhor para você. São raros os dias em que algum emissário do Senhor passa por essas terras.

Sentei-me na cadeira e ela colocou um prato para mim. Enquanto servia uma taça de vinho, a anfitriã sorria.

O javali estava delicioso, paladar tão saboroso quanto o vislumbre prometia.

Não vai comer? — perguntei.

Vou começar com uma fruta — disse pegando uma maçã.

Ela andava ao redor da mesa, engulo o que está na minha boca.

Desculpe, acho que me antecipei com o jantar, nem perguntei seu nome.

Não peça mais desculpas, padre, não se atenha a regras de etiqueta se o seu desejo é saciar a carne.

Como devo lhe chamar? Realeza?

Não me dê títulos nobres, me chame apenas de Elis, padre — disse sorrindo enquanto olhava para a fruta. — Ou, se preferir, condessa de sangue.

Ao falar, mordeu a maçã.

Estupefato, olhei para ela com uma mistura de angústia e surpresa.

Estou brincando, padre, você precisava ver sua cara de espanto.

Você sabe dos rumores?

Sim, a condessa malévola, a viúva do castelo na colina — enquanto falava, ela pôs a maçã de lado e serviu um prato. — Os rumores começaram após a morte de meu marido.

Antes de comer, ela andou até a janela.

Quando olha para mim, o que você vê? — perguntou a condessa.

Uma mulher muito elegante.

Ela abriu o sobretudo para eu ver um pouco mais.

Não será julgado pelo que me disser, guardarei segredo.

Enquanto mantinha o sobretudo aberto para que eu pudesse ver, ela olhava pela janela.

Eu não posso pecar contra o senhor, você é uma mulher muito elegante.

Antes de padre, o Senhor te fez homem, aja como um.

Bebi do vinho para me encorajar, olhei atento para ela, usava um espartilho que modelava o corpo. A condessa possuía uma cintura fina e quadril largo, bustos volumosos.

O Senhor foi muito generoso com suas medidas.

Ela riu, fechou o sobretudo e sentou-se à mesa.

Nenhum homem diria algo assim — disse a condessa.

Foi o melhor que consegui.

Com uma taça de vinho no ar, ela sugeriu:

Um brinde à generosidade do Criador com as minhas medidas.

Entrei na brincadeira, brindei e comemos a melhor refeição da minha vida. Quando satisfeitos, voltei ao assunto da noite.

Por que as pessoas espalham rumores a seu respeito?

Se olhar pela janela, meu reino se estende para além do alcance de seus olhos. Sou uma mulher muito bonita, tenho uma educação invejável. Esse tempo não é favorável a mulheres que possuem atributos como os meus.

Me sinto mal comigo mesmo, não vejo nela a mulher que descrevi na carta.

Padre, estou ficando sonolenta, devo dormir agora. Caso queira, posso providenciar uma cama aconchegante para você — disse a condessa, oferecendo uma estadia.

Sou muito grato pela refeição e atenção oferecidas para mim nessa noite, mas tenho que voltar à estalagem.

Certo, gostaria de fazer um pedido, você pode me abençoar? Não hoje, mas antes de você partir.

Ao levantar, percebo o quanto eu comi. Se ela pedisse a benção agora, eu não conseguiria. Não fará mal passar por aqui antes de partir.

É possível que eu parta amanhã.

Perfeito, esperarei por você. Que o Senhor abençoe o retorno à estalagem.

Amém — nunca me senti tão bem em pronunciar essa palavra.

Desci as escadas com a sensação de dever cumprido. Katarína me olhou com olhos de decepção, mas não disse nada.

Com a tocha acessa, voltei sozinho para a estalagem. Durante o percurso, penso na conversa daquela noite e na injustiça que cometeria com Elis, a condessa de sangue. Lembrar disso agora me gera vergonha por sentir medo dela, acho que é humano temer o desconhecido.

Cheguei ao quarto, a primeira tarefa foi acender a vela e queimar a carta. Escrevo uma segunda explicando a benevolência da jovem viúva. Agora é hora de descansar, o feno atiçou as lembranças do convite de dormir no castelo.

Ao acordar pela manhã, peguei a segunda carta e procurei uma estafeta que a levaria ao destinatário. Subi a colina para me despedir da condessa, alguns serviçais me olhavam com desdém.

Bom dia, onde está condessa? — perguntei ao primeiro funcionário que pude.

Ela está no pátio inferior, padre — disse apontando o caminho.

Obrigado, que o Senhor esteja com você — agradeci.

Amém.

Gosto mais daqui a cada interação. Andei na direção indicada, mas não achei ninguém. Paredes de pedras com janelas largas, bem iluminadas, tanto pela luz do dia quanto por velas.

Elis!

Oi, padre, venha aqui — respondeu à condessa.

Andei na direção da voz, quando me deparei com ela nua em uma banheira.

Me perdoe, não foi minha intenção — disse, virando o rosto para o outro lado.

Não precisa se desculpar, padre, sou grata por cumprir sua palavra. Agora, me dê uma benção.

Quer que eu saia para você se vestir?

Não, a água está quente, está ótima. Seria muito pedir que faça a benção de olhos fechados?

Que pedido inusitado.

Posso voltar outro dia.

Não, venha aqui e me dê a benção. Afinal, eu também sou filha do senhor.

Está bem, estou com os olhos fechados, me guie para próximo de você.

Ela segurou a minha mão e me posicionou de frente para a banheira, depois a colocou em sua testa.

Pode começar — disse Elis.

Comecei pelo sinal da cruz. O barulho da água me surpreendeu, abri os olhos com medo.

Elis estava segurando um punhal com a mão direita, a esquerda me puxou pela nuca e me beijou. Várias punhaladas na barriga, mordi, empurrei, soquei, mas nada aconteceu. É como se ela não sentisse minhas agressões, percebi que não era humana tarde demais.

Vejo o corpo de Katarína desmembrado no fundo da banheira, meu sangue se misturava com a água…

Tu eras o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e perfeito em formosura.

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